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O  que é Mindfulness

    A palavra inglesa “mindfulness” (traduzida como “atenção plena”) pode ser considerada um termo “guarda-chuva” ou polissêmico, que engloba em si vários significados:

          "Mindfulness” pode se referir a um estado mental ou psicológico caracterizado pela regulação intencional da nossa atenção ao que está acontecendo no exato momento, ou seja, que aparece quando levamos a nossa atenção de forma sustentada a cada atividade ou fenômeno enquanto o mesmo está ocorrendo (oposto ao estado de desatenção, em que nossa mente fica “presa” a pensamentos sobre eventos passados ou planos futuros, e consequentemente não estamos presentes no que está acontecendo no “agora”). Além disso, essa regulação da atenção tem uma qualidade específica, caracterizada por uma atitude de abertura, curiosidade e aceitação frente ao fenômeno, evitando-se pré-julgamentos e críticas pré-concebidas (ao contrário do que geralmente fazemos quando entramos em contato com a realidade, qualificando-a imediata e automaticamente como “agradável” ou “desagradável”, o que está associado a reações de apego ou rechaço do tipo “piloto automático”, muitas vezes geradoras de sofrimento psíquico).

       “Mindfulness” também pode designar uma série de exercícios, técnicas ou práticas, que treinam e cultivam o estado de mindfulness descrito acima, as quais são, em sua maioria, derivadas de práticas meditativas tradicionais, adaptadas principalmente do Zen Budismo (“caminhada com atenção plena”; “atenção plena na respiração”), do Ioga (“movimentos com atenção plena”), e da tradição Vipassana (“body scan” ou “escaneamento corporal”).

             Mais recentemente, “Mindfulness” tem se referido aos programas baseados em mindfulness (Mindfulness-Based Interventions), que são intervenções psicossociais nos quais as práticas de atenção plena acima mencionadas são ensinadas de maneira estruturada. O programa original é o MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction), criado na Universidade de Massachusetts (EUA) por Jon Kabat-Zinn no final da década de 1970, voltado a pacientes com condições clínicas crônicas. Em geral, os programas de mindfulness são desenvolvidos em grupo, ao longo de 8 semanas, com uma sessão presencial por semana, na qual são ensinados e praticados os exercícios de mindfulness, associados a psicoeducação para o manejo adequado do “estresse” cotidiano. A partir do MBSR, vários outros programas foram desenvolvidos, sempre baseados nas práticas de mindfulness, mas orientados a públicos-alvo específicos, como o programa MBCT (Mindfulness-Based Cognitive Therapy), voltado a pacientes com depressão maior (unipolar) com alto risco de recaída (mais de 3 recaídas ou recorrências anteriores). Para além da área da saúde, os programas de mindfulness têm sido aplicados na sociedade em geral, como na educação e nas organizações, incluindo programas voltados a escolas de ensino fundamental, ao mundo corporativo e a atletas de alto desempenho.

 

Mindfulness e Promoção da Saúde

          O estado de mindfulness (cultivado pelas práticas e programas baseados em mindfulness) está associado a uma série de benefícios para a saúde, tanto para pessoas “saudáveis”, quanto para pacientes. A evidência científica sobre mindfulness tem se acumulado exponencialmente, e com base em meta-análises recentes (padrão-ouro em termos de pesquisa), pode-se dizer que pessoas ou pacientes que cultivam mindfulness em suas vidas têm menos sintomas de ansiedade e depressão, e lidam melhor com quadros de “estresse” disfuncional e dor crônica. Isso se aplica a um leque amplo de condições clínicas crônicas, desde transtornos mentais, até quadros “orgânicos” como hipertensão, diabetes, AIDS e doenças inflamatórias intestinais. Os profissionais que praticam mindfulness também se beneficiam, apresentando menos sintomas de “burnout” (“síndrome do esgotamento profissional”), e até melhores resultados clínicos para seus pacientes no caso de profissionais de saúde (mediado pelo aumento da empatia e pela melhora na comunicação profissional-usuário).

             Além de suas aplicações preventivas ou terapêuticas na área da saúde, pode-se dizer que os programas de mindfulness têm impacto em todos os aspectos da Promoção da Saúde, compreendida em seu sentido mais amplo (no contexto da “intersetorialidade”) e moderno (como “qualidade de vida e bem-estar na sociedade”). Os programas de mindfulness têm como princípio o desenvolvimento de autonomia e empoderamento das pessoas por meio do treinamento da atenção plena, aspectos esses considerados fundamentais para a efetiva Promoção da Saúde. Ainda, mindfulness pode ter um efeito de empoderamento comunitário, ao melhorar as relações entre as pessoas em qualquer âmbito da sociedade, por meio do cultivo de uma atitude mais compassiva e empática. Além disso, mindfulness tem sido aplicado e implementado dentro de “políticas públicas saudáveis” (na área da saúde e educação, principalmente), como por exemplo no Reino Unido, onde mindfulness é uma das ferramentas terapêuticas baseadas em evidência no NHS (National Health service), correspondente ao nosso SUS e no qual os próprios parlamentares têm sido treinados em mindfulnes, com o intuito de catalisar a inserção futura de mindfulness na sociedade como um todo.*

*Demarzo MMP. Mindfulness e Promoção da Saúde. RESC 2015 Mar;2(3):e82.

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